Alguém deve ser identificado como cristão
por refletir padrões bíblicos de pensamentos, sentimentos e ações. Assim,
basicamente, cristão é aquele que tem a Bíblia como padrão de regra e fé e que
crê em sua inspiração divina (2 Tm 3.16).
Como obter conhecimento da Palavra de Deus?
Inicialmente, cabe a todo cristão ler e meditar nas Escrituras (Sl 1.2; Sl
119.97, 103), mas também é obrigação irrenunciável dos pastores e demais
oficiais da igreja, de todos os que fazem uso do púlpito para falar em nome de
Deus, expor a Palavra, pregar a Palavra (2 Tm 4.2), não usando da ocasião para
falar o que acham, o que pensam em sua fértil imaginação, pois a Palavra não
provém do homem, mas de Deus (2 Pe 1.20,21).
Talvez uma das maiores carências da Igreja
na atualidade seja esta: a verdadeira pregação da Palavra Deus. Alguém poderia
afirmar que todos os dias e em várias ocasiões há pregação, sendo incabível
falar em carência; outro poderia alegar que há a internet, programas de rádio e
TV, sendo assim, não há carência de pregação. Todavia, é inteiramente
equivocada esta conclusão, pois apesar de haver muita propaganda evangélica,
nem tudo expõe o Evangelho genuíno (deveríamos usar somente a expressão
“Evangelho”, mas como perdeu o sentido real ao longo dos anos, acrescentamos a
palalavra “genuíno”).
No meio cristão pentecostal há uma forte
ênfase no atuar do Espírito Santo na vida do cristão. Tal convicção encontra fundamento principalmente no livro bíblico de Atos dos Apóstolos, pois creem os pentecostais que a igreja
de Atos é um modelo para a igreja atual. Entretanto, em alguns (muitos) casos a
ênfase na atualidade dos dons espirituais e do batismo o Espírito Santo
suplanta a “capacidade de raciocinar”, não que isto ocorra
conscientemente em todos os casos, mas é que ao abandonarem a doutrina dos
apóstolos (At 2.42) e ficarem só com a "experiência apostólica",
parecem perder toda a capacidade intelectual que era presente nos primeiros
discípulos para expor com inteligência o Evangelho (vide o discurso de Pedro em
At. 2, Estevão em At. 7 e Paulo em At. 17).
Sendo assim, é fácil encontrar muitos
púlpitos pentecostais pobres no que se refere à pregação da Palavra de Deus. Há
entre muitos líderes o pensamento aintibíblico de que “não é por muito falar”; outros ainda conseguem sustentar a afirmação grosseira de que “a letra mata”, como sinônimo de resistência ao estudo bíblico/ teológico, e assim,
negligentemente, vamos multiplicando heresias, assaltando as mentes de crentes
incautos e matando neófitos na fé.
Cumpre esclarecer, portanto,
que essa negligência não encontra respaldo doutrinário, tampouco na literatura
denominacional (refiro-me aqui à assembleiana em alguns de seus consagrados
expositores). A título de exemplo e falando diretamente sobre a preparação e
entrega de sermões, atividade mais importante a ser desenvolvida em um púlpito, o
escritor pentecostal Anísio Batista Dantas afirma que “O ministro do Evangelho, especialmente o pregador, é um guia para o
leigo no entendimento da Bíblia.”
Tal missão de guia deveria fazer temer o ocupante do púlpito, pois ousa afirmar
que fala em nome de Deus e que guia outros. Prosseguindo, acrescenta o escritor
que “uma das maiores tragédias nos
púlpitos de nossas igrejas é a má preparação dos pregadores, especialmente
daqueles que, além de não estudarem, deixam de se dedicar à pregação”,
ainda, “outras há que, sem desconfiar do
entrave que causam à obra do Evangelho, são verdadeiros inimigos dos estudos e
dos que estudam”.
Se uma das maiores
tragédias é a defeituosa exposição do pregador, pergunta-se: Quanto tempo em média
dura a preparação de um sermão que vai ser exposto em 40 ou 50 minutos? Quantos
minutos são gastos em oração, meditação e no duro exame do texto bíblico, bem
como de materiais auxiliares? Há quem diga que isto tudo é desnecessário, pois
basta abrir a boca que Deus a encherá (Sl 81.10) - seria este o propósito do texto de Salmos? Contudo, tal afirmação é mais
uma demonstração da falta de preparação, falta de apego ao Texto Sagrado.
Um grande expositor
bíblico dos dias atuais, no Brasil, disse que uma das primeiras coisas que
observa ao visitar a casa de um colega de ministério é a biblioteca.
Se é pobre o acervo, pressupõe-se que há pouca e deficiente preparação bíblica, pois "não dá pra
ler só a Bíblia". Como assim? Dirão alguns: isto é uma heresia! É possível
reafirmar, com mais ênfase, e mesmo sem medo de errar, pois em relação ao texto
bíblico somos extremamente limitados, tanto quanto ao ambiente em que este foi
produzido (histórico, geográfico, cultural etc.), quanto em relação ao texto
original (hebraico, aramaico e grego) e tantos outros pormenores. Sendo assim,
apesar de crermos inteiramente na Bíblia como Palavra de Deus tendo-a como
regra de fé e prática, precisamos de auxílio, não substitutos, para aperfeiçoar
o entendimento acerca das Escrituras.
Para citar dois autores
pentecostais, volto ao escritor Anísio Batista que, discorrendo sobre o esquema
e estrutura do sermão afirma que além do conhecimento da Palavra de Deus o
pregador necessita de:
6. Cultura geral.
Não há limite para a cultura do obreiro cristão, especialmente a do pregador.
Deve ser armazenada através dos anos, por longos e profundos estudos, leituras
demoradas e constantes, e frequentes pesquisas. Leituras esporádicas nunca
deram cultura sólida a ninguém, e o inimigo dos livros jamais será culto.
7. Cultura específica.
Envolve conhecimento especializados, particularmente a teologia (em seus vários
ramos), história geral, história do povo hebreu, geografia bíblica, homilética,
hermenêutica, ética e atividades pastorais, ética cristã, evangelismo, missões,
psicologia, sociologia, além de sólido conhecimento da língua em que vai
pregar.
8. Conhecimentos atualizados. São
adquiridos de todos os campos da atividade humana, através de livros, periódicos,
anotações de conferências, sermões d e outros pregadores, convenções, escolas
bíblicas, seminários e todos os meios de difusão cultural e informação.
Naturalmente, esses conhecimentos armazenados são repassados na mente,
laboratório intelectual do pregador, na medida do possível e à proporção que
vão surgindo as necessidades. Eles enriquecem o homem de Deus com novas
experiências. Acrescntadas ideias próprias, o pregador poderá preparar melhor os
seus sermões.
Fortalece
os argumento acima, lição do renomado professor de homilética das Assembleias
de Deus no Brasil, Pastor Elinai Cabral:
Todo
pregador que se preze deve possuir uma biblioteca, à qual não deve faltar um
dicionário bíblico, uma enciclopédia bíblica, comentáios, geografia e
arqueologia bíblicas, história geral e da Igreja, livros devocionais,
biografias, manuais de doutrina, dicionário da língua portuguesa e outros.
Uma
adverência deste autor deveria ser tocada em alto e bom som para os pregadores
atuais: “O pregador não deixa de ser espiritual
pelo fato de enriquecer seus sermões com conhecimentos gerais.”
Não
foi Pedro que afirmou que o crente deve crescer na graça e no conhecimento de
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pe3.18)? Não crescia Jesus em
sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens (Lc 2.52)? Por que desprezar o crescimento no
conhecimento?
A
precariedade nos púlpitos impede o crescimento dos cristãos, impede o avanço da
igreja, impede que seja Igreja.
Sendo
assim:
Aos
que pregam, não sejam negligentes (1 Tm 4.14).
Aos
que ouvem, não sejam acomodados (At 17.11.).
Continua...